Como ajudar seu amigo com depressão
- Denise Raissa Psicóloga
- 9 de set. de 2020
- 5 min de leitura
Atualizado: 25 de mar. de 2021
Orientações sobre como manejar e dar suporte a uma pessoa que sofre de depressão.

Quando uma pessoa passa por problemas emocionais e acaba por desenvolver um quadro depressivo, as pessoas em volta geralmente não sabem como ajudar ou se o que fazem está ajudando. Devido ao fato de que alguém com sintomas de depressão muitas vezes tem dificuldade de falar, responder e interagir, algumas pessoas têm a impressão de que não estão colaborando ou representando algum suporte para que sofre. Pensando nesta situação associada às minhas experiências pessoais e no trabalho com a Psicologia, resolvi construir esta postagem e apresentar algumas orientações sobre manejo e como agir.
Importante!
Como cada pessoa é única e cada relação tem suas particularidades, as orientações a seguir são apresentadas como possibilidades, ou seja, são sugestões que podem servir para alguns casos, assim como podem ser adequadas conforme a situação e contexto.
1. Se apresentar disponível
Neste caso, seria se apresentar como alguém que esta pessoa possa contar em momentos em que esteja bem e, principalmente, nos momentos de dificuldade. Não precisa necessariamente buscar estar em contato diariamente, pode ser um contato periódico que também depende de como a relação está sendo estabelecida. Também é preciso entender que uma pessoa com depressão nem sempre está em um quadro de intensa tristeza e sofrimento, há momentos em que ela está bem e estável. Deve-se ficar atento para os momentos em que os sinais e sintomas do quadro depressivo começarem a aparecer e ficarem intensos e frequentes (insônia, perda de motivação, perda de interesse por atividades prazerosas, por exemplo), assim nestes momentos se apresentar disponível pode ser muito significativo para o outro.
2. Ajudar em algumas tarefas pendentes
Algumas pessoas em quadro depressivo têm dificuldades de começar ou finalizar algumas tarefas que aparentemente são simples e fazem parte do cotidiano porque começam a perder o interesse e sentir uma intensa e frequente indisposição. Durante as crises depressivas deve-se evitar críticas e cobranças, pois elas confirmam os pensamentos negativos e aumentam o estresse. Assim, uma possibilidade de ajudar é colaborar com algumas tarefas que a pessoa tenha muita dificuldade devido ao quadro que está passando, como por exemplo, pagar as contas, varrer a casa, cozinhar. As tarefas que se pode ajudar também é relativo devido a cada pessoa, além de que também a pessoa que se dispõe a ajudar deve considerar seu limite e em como e quando pode oferecer essa ajuda, e quem quais tarefas pode ajudar.
3. Ouvir. Dar conselhos se a pessoa se colocar disponível para receber.
Ouvir é fundamental. A depender de cada pessoa, pode não ser o mais adequado perguntar e insistir que a pessoa fale sobre o que pensa e sente, pois pode proporcionar algum desconforto e até parecer que está pressionando o outro a falar. Como sabemos, o que a pessoa pode estar passando já é difícil, mais difícil ainda pode ser falar, assim a possibilidade é se manter disponível quando o outro sentir vontade de falar e, se pensar em aconselhar ou sugerir algo, deve-se perguntar primeiro. Em alguns casos de pessoas que estão vulneráveis emocionalmente, o conselho pode significar uma invalidação ou falta de empatia para a pessoa que o recebe. Mais uma vez é uma possibilidade que pode ser adequada a depender da pessoa, relação e contexto.
4. Entrar em contato periodicamente
Em casos em que a pessoa está em quadro depressivo é importante buscar contato uma vez que a pessoa tende a se isolar e ser pouco responsiva aos outros, assim, verificar como a pessoa está de forma periódica representa uma consolidação da rede de apoio social, de modo que as pessoas em volta estão cientes do estado de quem está mais vulnerável e podem oferecer suporte e apoio no momento de dificuldade e evitar o agravamento dos sintomas. Em casos graves, deve-se estar mais presente justamente para intervir caso a pessoa atente contra a própria vida ou esteja pensando em fazê-lo. Assim, a rede de apoio pode se mobilizar e buscar intervenções de profissionais de saúde mental, bem como recorrer a serviços de emergência em saúde mental.
As redes sociais de apoio podem ser definidas como a soma das relações que o indivíduo percebe como significativas e que podem contribuir para o enfretamento de situações vivenciadas por pessoas com necessidades de saúde. Esta rede pode ser composta de familiares, amigos, colegas de trabalho/escola e pessoas da comunidade.
5. Se certificar que a pessoa tenha uma lista de contatos de emergência
Os contatos de emergência são as pessoas que compõem uma parte da rede de apoio social da pessoa com problemas de saúde mental, sendo assim esses contatos são pessoas de confiança que se encontram disponíveis para ajudar em um momento difícil e de crise, seja para conversar, ouvir, ou para intervir em casos que a pessoa está em risco. Sendo assim, é importante se certificar que a pessoa tenha esta relação de contatos, além de, se possível, ter conhecimento desta lista para recorrer em momentos de emergência quando a pessoa sozinha não puder. Os contatos de emergência geralmente são familiares próximos (pai, mãe, irmãos) e amigos de confiança. Esta possibilidade também está sujeita a depender da relação que se estabelece com a pessoa que está com depressão.
6. Em momentos oportunos, relembrar a pessoa de seus pontos positivos e qualidades
Esta última sugestão de manejo e suporte é uma das mais importantes uma vez que a pessoa em quadro depressivo comumente não consegue enxergar seus potenciais e tem frequentes pensamentos negativos sobre si mesma, além de, alguns casos as pessoas não se recordarem de algumas conquistas importantes. Assim, uma possibilidade é, em momentos oportunos, dizer e reconhecer qualidades e experiências positivas que a pessoa tem ou teve. Algo que também pode colaborar é dizer o que você admira nesta pessoa. E sim, não há um momento exato para dizer ou como dizer, também irá depender da pessoa e da relação estabelecida com ela.
Importante!
Pessoas em quadro depressivo tendem a não atender ligações ou responder mensagens com frequência ou de maneira mais disponível, então considerando isso, pode ser que você não receba o retorno da forma que espera (agradecimentos, início de uma conversa mais prolongada, etc.). Assim, algumas reações e comportamentos que a pessoa venha a ter podem não ser por conta do que você disse ou ser algo pessoal, também irá depender da relação e do contexto. Se possível, deve-se buscar ajuda profissional quando se sentir muito esgotado ou se sentindo incapaz de ajudar. Sim, pessoas que são cuidadores e parte da rede social de apoio podem precisar de apoio psicológico uma vez que lidar com alguém em sofrimento pode ser um desafio muito grande.
Referências utilizadas para construção do texto:
Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos – ABRATA (2011). Depressão – Manual Informativo. São Paulo: PlanMark.
Brusamarello, Tatiana, Guimarães, Andréa Noeremberg, Labronici, Liliana Maria, Mazza, Verônica de Azevedo, & Maftum, Mariluci Alves. (2011). Redes sociais de apoio de pessoas com transtornos mentais e familiares. Texto & Contexto - Enfermagem, 20(1), 33-40.
Quem escreve

Denise Raissa Lobato Chaves é psicóloga, especialista em Saúde Mental e tem experiência na prevenção e tratamento de transtornos mentais. Realiza psicoterapia online e presencial com adultos e adolescentes em Belém-PA. Visualizar perfil completo Contato: deniseraissapsi@gmail.com | (91)982328267
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